Homilia do Bispo de Santarém na solenidade da Imaculada Conceição
"Como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só muitos se tornarão justos” (Rm 5, 19). Neste trecho da carta aos romanos que hoje nos é oferecido no ofício de leituras, São Paulo coloca em contraste dois tipos de pessoa, dois estilos de vida: 1. Aqueles que vivem ao estilo de Adão, o homem velho, que pela sua desobediência irradiou o pecado. 2. E os justos que vivem ao estilo do homem novo, Jesus Cristo, que nos liberta do pecado, e faz de nós novas criaturas, santos e irrepreensíveis. Maria de Nazaré, em atenção à maternidade divina, é por excelência a nova criatura, a nova Eva, aquela em quem a beleza da graça original atingiu a perfeição. Assim a liturgia da solenidade da Imaculada Conceição no-la apresenta como a grande bênção espiritual que Deus nos concedeu, como a realização admirável da santidade dos filhos de Deus. Maria é a cheia de graça, plenamente bela, profundamente jubilosa.
Em Nossa Senhora da Imaculada Conceição eleva-se um hino de louvor à glória de Deus: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu salvador. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 46.48), proclama na visita a Isabel. A sua vocação, a sua vida iluminada pela fé e entregue ao serviço do Altíssimo, é um motivo de júbilo. À sua volta irradia alegria que se estende ao menino que Isabel trazia no seio. E esta concluiu: “Feliz és tu porque acreditaste”. Acreditar e confiar dá solidez e felicidade à vida.
No ano da fé contemplemos em Maria uma porta para a fé. Foi-lhe pedido uma tarefa difícil de entender: “Conceberás e darás à luz um filho (...) Ele será grande, e chamar-se-á Filho do Altíssimo”. Maria ficou perturbada e procurou esclarecimento: “Como será isso”? A explicação dada pelo anjo da Anunciação supera a lógica humana. Mas a virgem confia e declara a sua total disponibilidade: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Ao tomar conhecimento de que Deus precisa dela, de que a sua colaboração é preciosa para que o desígnio do Altíssimo se cumpra, Maria de Nazaré aceita e obedece. A entrega é sempre uma renúncia aos projectos pessoais, aos sonhos próprios. Mas, por outro lado, é identificação com o projecto mais elevado, mais amplo, com o projecto de salvação de Deus que dá, à vida dos justos, um sentido transcendente de missão. Na companhia de Nossa senhora da Conceição aprendamos o caminho da fé, caminho de fidelidade ao projecto de Deus. Seguindo esse caminho podemos proclamar, com os crentes de todas as gerações, o júbilo e o louvor de Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo: O Senhor fez maravilhas”.
Duas propostas de vida
A fé fundamenta e eleva a dignidade humana e torna possível a vitória sobre o mal. É o ensino da primeira e da segunda leitura. Em Maria estão representados todos os crentes. Com ela e com São Paulo nós proclamamos também: “Bendito seja Deus que do alto dos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Em Cristo Deus escolheu-nos para sermos santos e irrepreensíveis em caridade, na sua presença”. Os que acreditam e obedecem a Deus como Maria, seguem Jesus Cristo o homem novo e experimentam o júbilo e o louvor. Em todos os tempos e lugares se eleva o cântico novo dos que em Cristo se tornaram novas criaturas.
Paralelamente, porém, também em todos os tempos se coloca aos homens a mesma tentação de Adão, que ouvimos na primeira leitura: Viver à margem de Deus, como se Ele não existisse, como se fosse até um impedimento à plena realização do homem. É a tentação que acompanha a humanidade desde as origens. “Sereis como deuses”, havia prometido a serpente, figura do maligno. Depois de cair no logro, qual o resultado que os pais da humanidade experimentaram? “Estava nu, tive medo e escondi-me” disse Adão. A crise moral e espiritual pôs a nu a fragilidade, o vazio, o engano de tantas ilusões modernas.
As leituras colocam-nos perante duas propostas de vida: a beleza da fé traduzida na obediência ao projecto de Deus. Ou o medo, a nudez e o desengano do pecado que consiste em viver para nós mesmos, à imagem de Adão. Como afirma um dos documentos mais representativos do Concílio Vaticano II, a constituição “Gaudium et Spes”, estamos perante o mistério do homem chamado à santidade mas inclinado ao pecado (Cf nº 13). Criado à imagem de Deus, o homem é capaz de conhecer e amar o Criador, capaz de santidade em caridade e em comunidade. Porém, muitas vezes, se deixa iludir pelo maligno e recusa reconhecer a Deus como Senhor. Então entra em ruptura com o seu destino, com as outras criaturas, com a toda a criação, como vemos no texto da primeira leitura. Põe a descoberto a sua nudez. O homem está dividido em si mesmo, vive numa luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. O próprio Senhor veio para o libertar e fortalecer nesta luta. De facto, o pecado diminui o homem impedindo-o de alcançar a sua plenitude. E conclui o texto da Gaudium et Spes: “à luz da revelação encontram a sua explicação última tanto a sublime vocação como a profunda miséria que os homens experimentam” (GS 13).
Neste confronto entre o bem e o mal, Nossa Senhora da Imaculada Conceição é uma luz de esperança. Ela torna mais acessível e mais próxima de nós a luz de Cristo, sol que dissipa as trevas do pecado. É a nossa padroeira a quem recomendamos todos os filhos de Deus da diocese e a quem pedimos que não deixe faltar pastores para o Seu povo. À sua protecção encomendamos estes candidatos às ordens sacras que se preparam para o ministério ordenado. À sua intercessão encomendamos também os jovens do Escutismo que a veneram como “Mãe do escuta”. Que ela seja para todos nós a porta da fé a orientar-nos para Cristo, caminho de verdade e de vida, de paz e de alegria. Amen
+ D. Manuel Pelino Domingues, bispo de Santarém
Em Nossa Senhora da Imaculada Conceição eleva-se um hino de louvor à glória de Deus: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu salvador. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 46.48), proclama na visita a Isabel. A sua vocação, a sua vida iluminada pela fé e entregue ao serviço do Altíssimo, é um motivo de júbilo. À sua volta irradia alegria que se estende ao menino que Isabel trazia no seio. E esta concluiu: “Feliz és tu porque acreditaste”. Acreditar e confiar dá solidez e felicidade à vida.
No ano da fé contemplemos em Maria uma porta para a fé. Foi-lhe pedido uma tarefa difícil de entender: “Conceberás e darás à luz um filho (...) Ele será grande, e chamar-se-á Filho do Altíssimo”. Maria ficou perturbada e procurou esclarecimento: “Como será isso”? A explicação dada pelo anjo da Anunciação supera a lógica humana. Mas a virgem confia e declara a sua total disponibilidade: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Ao tomar conhecimento de que Deus precisa dela, de que a sua colaboração é preciosa para que o desígnio do Altíssimo se cumpra, Maria de Nazaré aceita e obedece. A entrega é sempre uma renúncia aos projectos pessoais, aos sonhos próprios. Mas, por outro lado, é identificação com o projecto mais elevado, mais amplo, com o projecto de salvação de Deus que dá, à vida dos justos, um sentido transcendente de missão. Na companhia de Nossa senhora da Conceição aprendamos o caminho da fé, caminho de fidelidade ao projecto de Deus. Seguindo esse caminho podemos proclamar, com os crentes de todas as gerações, o júbilo e o louvor de Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo: O Senhor fez maravilhas”.
Duas propostas de vida
A fé fundamenta e eleva a dignidade humana e torna possível a vitória sobre o mal. É o ensino da primeira e da segunda leitura. Em Maria estão representados todos os crentes. Com ela e com São Paulo nós proclamamos também: “Bendito seja Deus que do alto dos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Em Cristo Deus escolheu-nos para sermos santos e irrepreensíveis em caridade, na sua presença”. Os que acreditam e obedecem a Deus como Maria, seguem Jesus Cristo o homem novo e experimentam o júbilo e o louvor. Em todos os tempos e lugares se eleva o cântico novo dos que em Cristo se tornaram novas criaturas.
Paralelamente, porém, também em todos os tempos se coloca aos homens a mesma tentação de Adão, que ouvimos na primeira leitura: Viver à margem de Deus, como se Ele não existisse, como se fosse até um impedimento à plena realização do homem. É a tentação que acompanha a humanidade desde as origens. “Sereis como deuses”, havia prometido a serpente, figura do maligno. Depois de cair no logro, qual o resultado que os pais da humanidade experimentaram? “Estava nu, tive medo e escondi-me” disse Adão. A crise moral e espiritual pôs a nu a fragilidade, o vazio, o engano de tantas ilusões modernas.
As leituras colocam-nos perante duas propostas de vida: a beleza da fé traduzida na obediência ao projecto de Deus. Ou o medo, a nudez e o desengano do pecado que consiste em viver para nós mesmos, à imagem de Adão. Como afirma um dos documentos mais representativos do Concílio Vaticano II, a constituição “Gaudium et Spes”, estamos perante o mistério do homem chamado à santidade mas inclinado ao pecado (Cf nº 13). Criado à imagem de Deus, o homem é capaz de conhecer e amar o Criador, capaz de santidade em caridade e em comunidade. Porém, muitas vezes, se deixa iludir pelo maligno e recusa reconhecer a Deus como Senhor. Então entra em ruptura com o seu destino, com as outras criaturas, com a toda a criação, como vemos no texto da primeira leitura. Põe a descoberto a sua nudez. O homem está dividido em si mesmo, vive numa luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. O próprio Senhor veio para o libertar e fortalecer nesta luta. De facto, o pecado diminui o homem impedindo-o de alcançar a sua plenitude. E conclui o texto da Gaudium et Spes: “à luz da revelação encontram a sua explicação última tanto a sublime vocação como a profunda miséria que os homens experimentam” (GS 13).
Neste confronto entre o bem e o mal, Nossa Senhora da Imaculada Conceição é uma luz de esperança. Ela torna mais acessível e mais próxima de nós a luz de Cristo, sol que dissipa as trevas do pecado. É a nossa padroeira a quem recomendamos todos os filhos de Deus da diocese e a quem pedimos que não deixe faltar pastores para o Seu povo. À sua protecção encomendamos estes candidatos às ordens sacras que se preparam para o ministério ordenado. À sua intercessão encomendamos também os jovens do Escutismo que a veneram como “Mãe do escuta”. Que ela seja para todos nós a porta da fé a orientar-nos para Cristo, caminho de verdade e de vida, de paz e de alegria. Amen
+ D. Manuel Pelino Domingues, bispo de Santarém